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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

“Toda edição tinha uma matéria polêmica”

Um dos pioneiros do jornalismo maringaense, Messias Mendes, foi um dos idealizadores e editor chefe da Revista Pois É!
“Tinha muitos clientes, batia um sambinha legal”, recorda, alegre, o jornalista Messias Mendes, 60, dos tempos que trabalhava como engraxate no centro de Maringá. Natural de Pintadas, interior da Bahia, 80 km de Feira de Santana, Messias Mendes teve seu primeiro contato com o jornalismo na Agência de Notícias Transpress, onde ficou até 1965. Messias passou pelos mais importantes veículos de comunicação da cidade: Folha do Norte, Folha de Londrina (sucursal Maringá), TV Globo, Rádio CBN, O Diário do Norte do Paraná, entre outros. Foi o idealizador e redator chefe da revista Pois é!. Com reportagens ousadas, a Pois é! se tornou referência nesse segmento.


Messias Mendes conversou com a equipe do jornal Matéria Prima e recordou a época de glória da imprensa maringaense. Confira abaixo:


Seu pai saiu do interior da Bahia, em 1958, em busca do sonho de conseguir dinheiro e fazer o “pé de meia”. Como foi o início da sua história no norte do Paraná?

Meu pai arrendou uma fazenda de café próximo a Monte Castelo e mandou um primo nos buscar. Viemos de trem, oito dias de viagem. Ficamos um ano na fazenda, não deu certo e meu pai comprou um casebre na favela Cleópatra [que ficava próximo ao Cemitério Municipal]. Em seguida, mudamos para Mandaguari, meu pai tinha arrendado um sítio, onde ficamos por um ano. Em 1962 voltamos para Maringá e não saímos mais. Nessa época, Maringá não tinha nem asfalto, era só paralelepípedo na região central.


O senhor trabalhou como engraxate na república do Grêmio de Maringá. No mesmo prédio funcionava a agência de Notícias Transpress, onde teve o primeiro contato com o jornalismo. Como foi?

A Transpress era de um capitão aposentado do Exército, mas quem tomava conta era a ex-mulher, dona Geni, que era jornalista. Existiam em Maringá somente quatro empresas de rádio: Rádio Cultura, Rádio Jornal, Difusora e a Rádio Atalaia, todas AM, e dois jornais: a Folha do Norte e O Jornal. Todos os noticiários desses veículos eram produzidos pela Transpress, era um convênio que eles tinham. A dona Geni produzia as matérias e eu ia levar nas rádios e nos jornais, era o “boy”. Fiquei na Transpress até fechar, em 1965.

 Após o fechamento da Transpress, aproveitando a convivência diária estabelecida por conta da agência, o senhor foi procurar emprego no Jornal Folha do Norte. Como foi sua trajetória lá?

Quando fui pedir emprego conversei com o editor chefe, Ivens Lagoano Paxeco, que é uma das legendas do jornalismo maringaense. Ele me olhou e disse: “Se você for me comprar um cachimbo e eu gostar do cachimbo, estará empregado”. Fui na livraria Iracema, do falecido Emenegildo Gomes de Castro que com toda solidariedade nordestina, após ouvir a história, me deu o cachimbo. Levei o cachimbo, ele deu uma baforada, soltou a fumaça e disse: “está contratado”. Comecei trabalhar de “boy”, justamente na redação. Comprava cigarro para os redatores, ia pagar conta de água e de Luz. Depois fui para a expedição, junto com Wilson Serra, que hoje é diretor de jornalismo da RPC. Com a saída do Borba Filho, o Wilson Serra, juntamente com Valdir Pinheiro, assumiu a página de esportes. Como nas horas de folga eu pegava a máquina e escrevia alguns textos, ele me chamou para fazer a coluna do futebol amador. Comecei a assinar a coluna e parecia que estava no céu [risos]. Foi meu início no jornalismo.

Em 1986, nasce a revista Pois É!. Como surgiu essa ideia?

O então presidente do PMDB, Carlos Alberto de Paula, pediu para José Antônio Moscardi e eu criarmos um tablóide para o partido. O tablóide seria lançado justamente no dia da posse de Tancredo Neves, primeiro presidente civil a ser eleito depois do golpe militar. Fizemos a pauta do jornal, só que não conseguimos colocar um nome. Depois de algumas horas e de uma lista enorme com vários nomes, olhei para o Moscardi e falei: “Não sabia que era tão difícil escolher nome para um jornal, é mais difícil que fazer o jornal”. Ele me olhou e disse: “Pois é”. “Esse é o nome”, falei para ele, Pois É! O jornal saiu somente uma edição. Não queríamos deixar a ideia morrer e decidimos criar a revista “Pois É!”. Ela sobreviveu até 1991 e acabou por falta de verba após o Plano Collor, pois não conseguíamos mais anúncios depois dos congelamentos das poupanças.

A Pois É! chegou a vender 800 exemplares nas bancas enquanto a Veja vendia 500 exemplares. A que fator o senhor atribui esse sucesso?

Nós éramos ousados. Quando a Pois É! veio eu comecei a contratar serviço dos jornalistas mais conceituados da época. Jornalista como Luiz Geraldo Mazza, que era o papa do jornalismo paranaense, Nilson Monteiro, Domingos Pelegrini Junior, Mary Tortato, entre outros. Fazíamos sucesso por sermos abusados, não tínhamos medo de falar a linguagem do povo. Toda edição tinha uma matéria polêmica, uma matéria que dava discussão.

Cite algumas matérias que mexeram com a opinião pública.

Na primeira revista Pois É! saiu na capa a foto novo centro [de Maringá] de uma tomada aérea. Baseado no projeto de Oscar Niemeyer, fizemos uma montagem mostrando como ficaria no final da obra. O título era: “A Plástica Bilionária”. Nessa mesma edição contamos a história da mulher que dizia ser a mãe da Hebe Camargo. A senhora estava com mais de 90 anos e falava muito [risos]. E de fato, ela se parecia muito com a Hebe. Ela mostrou foto de quando a Hebe era criança, foto da Hebe fazendo a primeira comunhão, porém, a Hebe negava que era sua mãe. Fizemos uma matéria muito boa. Quando a Hebe recebeu a revista ficou inconformada e pisou nela diante das câmeras e foi exibido para todo o Brasil. O ato inconformado foi manchete no jornal Notícias Populares: “Hebe pisa em revista paranaense”. Uma vez, Mary Tortado me ligou e propôs uma matéria sobre uma tese de um professor da Universidade Federal do Paraná. O título era: “A importância da bosta”. A tese era bem fundamentada e o autor descobriu que não defecar pela manhã poderia afetar os negócios durante o dia e influenciava até mesmo na Bolsa de Valores. Ela fez uma matéria muito interessante e o público adorou.

Teve alguma entrevista que te marcou?

Algumas. Uma que me marcou muito foi com Florestan Fernandes, o papa da sociologia brasileira. Foi professor do Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente] e amigo do Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente]. Entrevistamos também Fiori Giliotti, que foi o papa da narração esportiva no rádio. Foi uma época em que a Seleção Brasileira estava passando por uma fase difícil. Então fizemos uma capa com uma perna de pau e uma bola murcha e colocamos: “Futebol é isso ai”, pegando um gancho na propaganda da Coca Cola, que dizia: “Coca Cola é isso ai”. E teve também a entrevista com o Faustão [o apresentador de TV Fausto Silva]. Ele veio fazer um show em Maringá, mostramos a Pois É! e ele aceitou dar uma entrevista para nós. O titulo foi “O senhor baixaria”, pois baixaria era uma palavra muito usada por ele em seu programa de televisão. O levamos na Avenida Getúlio Vargas e tiramos uma foto dele com os braços abertos, mostrado a Catedral de fundo, e colocamos na capa. Em dois programas ele mostrou a capa da Pois É! para todo o Brasil.

O senhor já pensou em reabrir o projeto e dar continuidade à Pois É!?

Já teve gente que até quis comprar o nome. Como ela foi nossa paixão, se alguém fizer uma revista de “picaretagem” vai nos agredir muito. Então é melhor deixar a Pois É! lá, na memória.

Como o senhor analisa a imprensa maringaense hoje?
A imprensa em Maringá está igual à imprensa nacional: pasteurizada. Os jornais são pasteurizados, quer dizer, o que se vê em um, vê-se em todos. A imprensa em Maringá já foi bem mais combatível. No tempo do O Jornal e da Folha do Norte existia uma competição muito grande. As duas redações eram repletas de bons repórteres. Hoje, com a internet, a informação ficou volátil, não se encontra mais nos jornais grandes reportagens. Os jornais, além de informar, formavam opinião. Hoje não. Talvez os veículos maiores, como a Folha de S. Paulo, tentam formar opinião, mas ficam do lado errado [risos].

Leonardo Diniz
Jornalista

Nota do PeagaH: Agradecimentos especiais a Leonardo Diniz, que nos cedeu essa entrevista. E inaugurou a Coluna do Léo, aqui no Blog do Peagah

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