Messias Mendes conversou com a equipe do jornal Matéria Prima e recordou a época de glória da imprensa maringaense. Confira abaixo:
Seu pai saiu do interior da Bahia, em 1958, em busca do sonho de conseguir dinheiro e fazer o “pé de meia”. Como foi o início da sua história no norte do Paraná?
Meu pai arrendou uma fazenda de café próximo a Monte Castelo e mandou um primo nos buscar. Viemos de trem, oito dias de viagem. Ficamos um ano na fazenda, não deu certo e meu pai comprou um casebre na favela Cleópatra [que ficava próximo ao Cemitério Municipal]. Em seguida, mudamos para Mandaguari, meu pai tinha arrendado um sítio, onde ficamos por um ano. Em 1962 voltamos para Maringá e não saímos mais. Nessa época, Maringá não tinha nem asfalto, era só paralelepípedo na região central.
O senhor trabalhou como engraxate na república do Grêmio de Maringá. No mesmo prédio funcionava a agência de Notícias Transpress, onde teve o primeiro contato com o jornalismo. Como foi?
A Transpress era de um capitão aposentado do Exército, mas quem tomava conta era a ex-mulher, dona Geni, que era jornalista. Existiam em Maringá somente quatro empresas de rádio: Rádio Cultura, Rádio Jornal, Difusora e a Rádio Atalaia, todas AM, e dois jornais: a Folha do Norte e O Jornal. Todos os noticiários desses veículos eram produzidos pela Transpress, era um convênio que eles tinham. A dona Geni produzia as matérias e eu ia levar nas rádios e nos jornais, era o “boy”. Fiquei na Transpress até fechar, em 1965.
Após o fechamento da Transpress, aproveitando a convivência diária estabelecida por conta da agência, o senhor foi procurar emprego no Jornal Folha do Norte. Como foi sua trajetória lá?
Quando fui pedir emprego conversei com o editor chefe, Ivens Lagoano Paxeco, que é uma das legendas do jornalismo maringaense. Ele me olhou e disse: “Se você for me comprar um cachimbo e eu gostar do cachimbo, estará empregado”. Fui na livraria Iracema, do falecido Emenegildo Gomes de Castro que com toda solidariedade nordestina, após ouvir a história, me deu o cachimbo. Levei o cachimbo, ele deu uma baforada, soltou a fumaça e disse: “está contratado”. Comecei trabalhar de “boy”, justamente na redação. Comprava cigarro para os redatores, ia pagar conta de água e de Luz. Depois fui para a expedição, junto com Wilson Serra, que hoje é diretor de jornalismo da RPC. Com a saída do Borba Filho, o Wilson Serra, juntamente com Valdir Pinheiro, assumiu a página de esportes. Como nas horas de folga eu pegava a máquina e escrevia alguns textos, ele me chamou para fazer a coluna do futebol amador. Comecei a assinar a coluna e parecia que estava no céu [risos]. Foi meu início no jornalismo.
Em 1986, nasce a revista Pois É!. Como surgiu essa ideia?
O então presidente do PMDB, Carlos Alberto de Paula, pediu para José Antônio Moscardi e eu criarmos um tablóide para o partido. O tablóide seria lançado justamente no dia da posse de Tancredo Neves, primeiro presidente civil a ser eleito depois do golpe militar. Fizemos a pauta do jornal, só que não conseguimos colocar um nome. Depois de algumas horas e de uma lista enorme com vários nomes, olhei para o Moscardi e falei: “Não sabia que era tão difícil escolher nome para um jornal, é mais difícil que fazer o jornal”. Ele me olhou e disse: “Pois é”. “Esse é o nome”, falei para ele, Pois É! O jornal saiu somente uma edição. Não queríamos deixar a ideia morrer e decidimos criar a revista “Pois É!”. Ela sobreviveu até 1991 e acabou por falta de verba após o Plano Collor, pois não conseguíamos mais anúncios depois dos congelamentos das poupanças.
A Pois É! chegou a vender 800 exemplares nas bancas enquanto a Veja vendia 500 exemplares. A que fator o senhor atribui esse sucesso?
Nós éramos ousados. Quando a Pois É! veio eu comecei a contratar serviço dos jornalistas mais conceituados da época. Jornalista como Luiz Geraldo Mazza, que era o papa do jornalismo paranaense, Nilson Monteiro, Domingos Pelegrini Junior, Mary Tortato, entre outros. Fazíamos sucesso por sermos abusados, não tínhamos medo de falar a linguagem do povo. Toda edição tinha uma matéria polêmica, uma matéria que dava discussão.
Cite algumas matérias que mexeram com a opinião pública.
Na primeira revista Pois É! saiu na capa a foto novo centro [de Maringá] de uma tomada aérea. Baseado no projeto de Oscar Niemeyer, fizemos uma montagem mostrando como ficaria no final da obra. O título era: “A Plástica Bilionária”. Nessa mesma edição contamos a história da mulher que dizia ser a mãe da Hebe Camargo. A senhora estava com mais de 90 anos e falava muito [risos]. E de fato, ela se parecia muito com a Hebe. Ela mostrou foto de quando a Hebe era criança, foto da Hebe fazendo a primeira comunhão, porém, a Hebe negava que era sua mãe. Fizemos uma matéria muito boa. Quando a Hebe recebeu a revista ficou inconformada e pisou nela diante das câmeras e foi exibido para todo o Brasil. O ato inconformado foi manchete no jornal Notícias Populares: “Hebe pisa em revista paranaense”. Uma vez, Mary Tortado me ligou e propôs uma matéria sobre uma tese de um professor da Universidade Federal do Paraná. O título era: “A importância da bosta”. A tese era bem fundamentada e o autor descobriu que não defecar pela manhã poderia afetar os negócios durante o dia e influenciava até mesmo na Bolsa de Valores. Ela fez uma matéria muito interessante e o público adorou.
Teve alguma entrevista que te marcou?
Algumas. Uma que me marcou muito foi com Florestan Fernandes, o papa da sociologia brasileira. Foi professor do Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente] e amigo do Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente]. Entrevistamos também Fiori Giliotti, que foi o papa da narração esportiva no rádio. Foi uma época em que a Seleção Brasileira estava passando por uma fase difícil. Então fizemos uma capa com uma perna de pau e uma bola murcha e colocamos: “Futebol é isso ai”, pegando um gancho na propaganda da Coca Cola, que dizia: “Coca Cola é isso ai”. E teve também a entrevista com o Faustão [o apresentador de TV Fausto Silva]. Ele veio fazer um show em Maringá, mostramos a Pois É! e ele aceitou dar uma entrevista para nós. O titulo foi “O senhor baixaria”, pois baixaria era uma palavra muito usada por ele em seu programa de televisão. O levamos na Avenida Getúlio Vargas e tiramos uma foto dele com os braços abertos, mostrado a Catedral de fundo, e colocamos na capa. Em dois programas ele mostrou a capa da Pois É! para todo o Brasil.
O senhor já pensou em reabrir o projeto e dar continuidade à Pois É!?
Já teve gente que até quis comprar o nome. Como ela foi nossa paixão, se alguém fizer uma revista de “picaretagem” vai nos agredir muito. Então é melhor deixar a Pois É! lá, na memória.
Como o senhor analisa a imprensa maringaense hoje?
A imprensa em Maringá está igual à imprensa nacional: pasteurizada. Os jornais são pasteurizados, quer dizer, o que se vê em um, vê-se em todos. A imprensa em Maringá já foi bem mais combatível. No tempo do O Jornal e da Folha do Norte existia uma competição muito grande. As duas redações eram repletas de bons repórteres. Hoje, com a internet, a informação ficou volátil, não se encontra mais nos jornais grandes reportagens. Os jornais, além de informar, formavam opinião. Hoje não. Talvez os veículos maiores, como a Folha de S. Paulo, tentam formar opinião, mas ficam do lado errado [risos].
Meu pai arrendou uma fazenda de café próximo a Monte Castelo e mandou um primo nos buscar. Viemos de trem, oito dias de viagem. Ficamos um ano na fazenda, não deu certo e meu pai comprou um casebre na favela Cleópatra [que ficava próximo ao Cemitério Municipal]. Em seguida, mudamos para Mandaguari, meu pai tinha arrendado um sítio, onde ficamos por um ano. Em 1962 voltamos para Maringá e não saímos mais. Nessa época, Maringá não tinha nem asfalto, era só paralelepípedo na região central.
O senhor trabalhou como engraxate na república do Grêmio de Maringá. No mesmo prédio funcionava a agência de Notícias Transpress, onde teve o primeiro contato com o jornalismo. Como foi?
A Transpress era de um capitão aposentado do Exército, mas quem tomava conta era a ex-mulher, dona Geni, que era jornalista. Existiam em Maringá somente quatro empresas de rádio: Rádio Cultura, Rádio Jornal, Difusora e a Rádio Atalaia, todas AM, e dois jornais: a Folha do Norte e O Jornal. Todos os noticiários desses veículos eram produzidos pela Transpress, era um convênio que eles tinham. A dona Geni produzia as matérias e eu ia levar nas rádios e nos jornais, era o “boy”. Fiquei na Transpress até fechar, em 1965.
Após o fechamento da Transpress, aproveitando a convivência diária estabelecida por conta da agência, o senhor foi procurar emprego no Jornal Folha do Norte. Como foi sua trajetória lá?
Quando fui pedir emprego conversei com o editor chefe, Ivens Lagoano Paxeco, que é uma das legendas do jornalismo maringaense. Ele me olhou e disse: “Se você for me comprar um cachimbo e eu gostar do cachimbo, estará empregado”. Fui na livraria Iracema, do falecido Emenegildo Gomes de Castro que com toda solidariedade nordestina, após ouvir a história, me deu o cachimbo. Levei o cachimbo, ele deu uma baforada, soltou a fumaça e disse: “está contratado”. Comecei trabalhar de “boy”, justamente na redação. Comprava cigarro para os redatores, ia pagar conta de água e de Luz. Depois fui para a expedição, junto com Wilson Serra, que hoje é diretor de jornalismo da RPC. Com a saída do Borba Filho, o Wilson Serra, juntamente com Valdir Pinheiro, assumiu a página de esportes. Como nas horas de folga eu pegava a máquina e escrevia alguns textos, ele me chamou para fazer a coluna do futebol amador. Comecei a assinar a coluna e parecia que estava no céu [risos]. Foi meu início no jornalismo.
Em 1986, nasce a revista Pois É!. Como surgiu essa ideia?
O então presidente do PMDB, Carlos Alberto de Paula, pediu para José Antônio Moscardi e eu criarmos um tablóide para o partido. O tablóide seria lançado justamente no dia da posse de Tancredo Neves, primeiro presidente civil a ser eleito depois do golpe militar. Fizemos a pauta do jornal, só que não conseguimos colocar um nome. Depois de algumas horas e de uma lista enorme com vários nomes, olhei para o Moscardi e falei: “Não sabia que era tão difícil escolher nome para um jornal, é mais difícil que fazer o jornal”. Ele me olhou e disse: “Pois é”. “Esse é o nome”, falei para ele, Pois É! O jornal saiu somente uma edição. Não queríamos deixar a ideia morrer e decidimos criar a revista “Pois É!”. Ela sobreviveu até 1991 e acabou por falta de verba após o Plano Collor, pois não conseguíamos mais anúncios depois dos congelamentos das poupanças.
A Pois É! chegou a vender 800 exemplares nas bancas enquanto a Veja vendia 500 exemplares. A que fator o senhor atribui esse sucesso?
Nós éramos ousados. Quando a Pois É! veio eu comecei a contratar serviço dos jornalistas mais conceituados da época. Jornalista como Luiz Geraldo Mazza, que era o papa do jornalismo paranaense, Nilson Monteiro, Domingos Pelegrini Junior, Mary Tortato, entre outros. Fazíamos sucesso por sermos abusados, não tínhamos medo de falar a linguagem do povo. Toda edição tinha uma matéria polêmica, uma matéria que dava discussão.
Cite algumas matérias que mexeram com a opinião pública.
Na primeira revista Pois É! saiu na capa a foto novo centro [de Maringá] de uma tomada aérea. Baseado no projeto de Oscar Niemeyer, fizemos uma montagem mostrando como ficaria no final da obra. O título era: “A Plástica Bilionária”. Nessa mesma edição contamos a história da mulher que dizia ser a mãe da Hebe Camargo. A senhora estava com mais de 90 anos e falava muito [risos]. E de fato, ela se parecia muito com a Hebe. Ela mostrou foto de quando a Hebe era criança, foto da Hebe fazendo a primeira comunhão, porém, a Hebe negava que era sua mãe. Fizemos uma matéria muito boa. Quando a Hebe recebeu a revista ficou inconformada e pisou nela diante das câmeras e foi exibido para todo o Brasil. O ato inconformado foi manchete no jornal Notícias Populares: “Hebe pisa em revista paranaense”. Uma vez, Mary Tortado me ligou e propôs uma matéria sobre uma tese de um professor da Universidade Federal do Paraná. O título era: “A importância da bosta”. A tese era bem fundamentada e o autor descobriu que não defecar pela manhã poderia afetar os negócios durante o dia e influenciava até mesmo na Bolsa de Valores. Ela fez uma matéria muito interessante e o público adorou.
Teve alguma entrevista que te marcou?
Algumas. Uma que me marcou muito foi com Florestan Fernandes, o papa da sociologia brasileira. Foi professor do Fernando Henrique [Cardoso, ex-presidente] e amigo do Lula [Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente]. Entrevistamos também Fiori Giliotti, que foi o papa da narração esportiva no rádio. Foi uma época em que a Seleção Brasileira estava passando por uma fase difícil. Então fizemos uma capa com uma perna de pau e uma bola murcha e colocamos: “Futebol é isso ai”, pegando um gancho na propaganda da Coca Cola, que dizia: “Coca Cola é isso ai”. E teve também a entrevista com o Faustão [o apresentador de TV Fausto Silva]. Ele veio fazer um show em Maringá, mostramos a Pois É! e ele aceitou dar uma entrevista para nós. O titulo foi “O senhor baixaria”, pois baixaria era uma palavra muito usada por ele em seu programa de televisão. O levamos na Avenida Getúlio Vargas e tiramos uma foto dele com os braços abertos, mostrado a Catedral de fundo, e colocamos na capa. Em dois programas ele mostrou a capa da Pois É! para todo o Brasil.
O senhor já pensou em reabrir o projeto e dar continuidade à Pois É!?
Já teve gente que até quis comprar o nome. Como ela foi nossa paixão, se alguém fizer uma revista de “picaretagem” vai nos agredir muito. Então é melhor deixar a Pois É! lá, na memória.
Como o senhor analisa a imprensa maringaense hoje?
A imprensa em Maringá está igual à imprensa nacional: pasteurizada. Os jornais são pasteurizados, quer dizer, o que se vê em um, vê-se em todos. A imprensa em Maringá já foi bem mais combatível. No tempo do O Jornal e da Folha do Norte existia uma competição muito grande. As duas redações eram repletas de bons repórteres. Hoje, com a internet, a informação ficou volátil, não se encontra mais nos jornais grandes reportagens. Os jornais, além de informar, formavam opinião. Hoje não. Talvez os veículos maiores, como a Folha de S. Paulo, tentam formar opinião, mas ficam do lado errado [risos].
Leonardo Diniz
Jornalista
Nota do PeagaH: Agradecimentos especiais a Leonardo Diniz, que nos cedeu essa entrevista. E inaugurou a Coluna do Léo, aqui no Blog do Peagah

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