Para trabalhar um padeiro precisa de farinha, de um forno e de amor, claro que uma bela receita de pão ajuda também, para trabalhar, um vidraceiro precisa de vidro e daquela massinha cinza que fixa o vidro na janela, mas e um professor? Do que precisa?
Provavelmente caro leitor, você irá responder, "pela lógica, precisa de giz e de um livro", correto, ou até de um tablet ein? O professor do século XXI, ele não usa giz, ele usa um tablet! Está em todos os jornais. O Professor do futuro é digital.
Claro que tudo isso que eu citei acima é falho quando o principal lhe falta, MOTIVAÇÃO.
Trabalhar com educação no Brasil é pior e mais perigoso que muitas profissões consideradas " de risco", encarar uma sala de aula que teoricamente deveria ser um local onde se ensina e educa, é estar na cova dos leões todo dia.
Recordo-me de 2007 quando lecionei pelo estado a primeira vez, estava eu no ultimo ano de Historia da UEM, quando no primeiro dia como professor temporário do estado ao entrar numa 5a série,após 10 minutos de aula uma aluna ao ser chamada atenção por estar conversando demasiadamente alto, proferiu a seguinte frase "vai tomar no seu C#%$#% professor", claro que foi enviada a diretoria, mas o que viria na sequencia seria ainda mais triste, caos total, uma outra aluna sai do lugar em que estava sentada e diz: "professor, você não passa de um filho da P#@$", também foi retirada da sala.
Após controlar o caos, a coordenadora vem com a aluna que mandou tomar naquele lugar e diz: "Professor, já conversei com ela, está tudo bem", neste momento meu coração quase explodiu, tudo bem? como assim, o aluno desrespeita a autoridade máxima de uma sala de aula e 5 minutos de conversa resolveram o problema?
Não permiti que voltasse para a aula, foi para um local qualquer da escola fingir que estava fazendo uma lista de exercícios previamente preparada para os alunos que não quisessem desfrutar de uma aula de historia.
Obviamente que a segunda transgressora voltaria, ou tentaria voltar para a aula momentos depois e foi fazer exercícios junto com a primeira.
Esse é um exemplo do que se vê nas escolas por aí. Querem mais?
Em 2005 trabalhei em uma biblioteca municipal, localizada em um bairro setorial da cidade, mas um bairro bem legal, com uma baita avenida e uma escola próxima Periodicamente recebíamos adolescentes que cometiam pequenos delitos e deveriam pagar algumas "penas", como eram menores, cabiam a eles alguns serviços para pensarem no que fizeram, mas para mim era uma galhofa atras de outra.
Um cidadão bem de saúde, bem aparentado, educado se juntou a nós, estagiários na época que realizavam o atendimento da biblioteca. Como não poderiam portar nenhum tipo de arma ou objeto cortante ou pontiagudo, restavam dobrar carteirinhas de cadastro para pagar as devidas horas com o conselho tutelar.
De todos que passaram por lá, um me chamou atenção, talvez pela gravidade do ato, o cidadão C, era alto, bem educado, nada aparentava ter de errado com o adolescente, exceto porque ateara fogo no carro da diretora 3 dias antes, pelo simples fato de "não gostar da forma como fora tratado pela mesma", ou seja a diretora lhe chamou atenção por uma briga entre adolescentes, o senhor C fica ofendido e resolve com um incêndio no carro da diretora, a pergunta é, quantos dias ele dobrou carteirinhas de cadastro para "pagar" essa pena? Cinco.
Esse é um dos pontos. O professor precisa de segurança, esse é um ponto. Mas o professor precisa também de mais do que ferramentas, ele precisa de remuneração, todos sabem que o professor ganha mal e trabalha muito. Mas o ponto agora é, o que falta? Dinheiro do estado? Vontade?
O que falta é uma politica que valorize o professor, o educador e tudo que envolva educação.
Olha que bacana, o governo do Paraná, fechou um acordo com uma empresa de informática sediada em Curitiba, e realizou a compra de vários tablets, sim tablets, que supostamente deverão ser usados nas aulas dos colégios estaduais pelos professores. Ótima iniciativa, se houvesse um preparo para isso. Voces acham mesmo que um professor prefere lecionar com um tablet ao ganhar um salario e condições de trabalho melhores?
Voltando a 2007, nessa época no citado colégio, haviam acabado de chegar 24 computadores novos, com sistema operacional Debian, uma distribuição do Linux que muita gente acha coisa de outro planeta, o que eu mais ouvia era, "meu Deus, não sei usar isso", no open office diziam "nossa Senhora, tudo diferente, nem consigo digitar uma prova".
Levar os alunos então para usar o laboratório novinha era impensável fiquei 1 mês tentando convencer a coordenadora de que havia sentido em usar as maquinas e que a aula seria diferente.
Mas aí, torno a perguntar, será que os professores preferiam mesmo ter 24 pcs novos? Ou queriam um plano de carreira, segurança no trabalho e remuneração digna de quem estuda e anos depois passa a ser educador.
Sou adepto as novas tecnologias, seria muito bom que todos os professores usassem , mas sou mais adepto a um estado que ao invés de gastar fortunas em contratos políticos que gastasse com o profissional da educação. Dinheiro temos, só falta a vontade.
Minha esposa trabalha em colégios públicos e me disse que os tablets estão lá, parados, os professores old school não sabem usá-los, querem treinamentos, mas não sabem o quando o farão e mesmo assim, de que adianta um tablet para um professor, como a aula vai se tornar mais interativa, sendo que ele precisa de tudo previamente preparado, mas na sala de aula só temos pessoas e carteiras, como um aparelho de 7 polegadas vai tornar a aula de 40 alunos mais interativa, sendo que o profissional que deveria utilizá-lo sequer sabe localizar emails em sua caixa de entrada? Salvemos aqui as exceções não estou generalizando, pois há muito professor guerreiro por aí, que dá o sangue mesmo sendo mal remunerado e correndo vários riscos no dia-a-dia.
É só um desabafo do que temos hoje no cenário nacional e educacional, é minha opinião, deixe nos comentários a sua... Talvez assim um dia o brasileiro fale mais em educação e menos em futebol.


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